quarta-feira, 4 de junho de 2008

MANOEL DE BARROS

Manoel de Barros escreve versos que causam estranhamento, sua poética é feita com as coisas simples, mas de uma forma original. Ele inventa palavras e dá novo uso a outras. Serão as águas do pantanal que o tornaram tão simples e ao mesmo tempo tão complexo?

CAMINHADA

Eu vinha aquela tarde pela terra
fria de sapos...
O azul das pedras tinha cauda e canto.
De um sarã espreitava meu rosto um passarinho.
Caracóis passeavam com róseos casacos ao sol.
As mãos cresciam crespas para a água da ilha.
Começaram de mim a abrir roseiras bravas.
Com as crinas a fugir rodavam cavalos
investindo os orvalhos ainda em carne.
De meu rosto se viam ribeiros..
Limpando da casa-do-vento os limos
no ar minha voz pisava...
(Manoel de Barros - Gramática Expositiva do Chão. Ed. Civilização Brasileira S.A., 1990)

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