quinta-feira, 29 de outubro de 2009

TEMPO


(Salvador Dali - A Persistência da Memória)


Por que será que todo ano acontece isso comigo? Eu vou vivendo normal, sem muita preocupação com o passar dos meses, mas um belo dia dou de cara com as lojas já vendendo enfeites pro Natal e levo um susto.
Mas isso tudo é tão relativo, o tempo afinal é uma invenção dos homens... ou da morte, como diz meu querido Quintana:

AH! OS RELÓGIOS

Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.

E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...

Mario Quintana - A Cor do Invisível