quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Depois de tanto tempo sem postar.... voltando com Neruda.

Talvez tenhamos tempo

Talvez ainda tenhamos tempo
para ser e para ser justos.
De uma maneira transitória
ontem a verdade morreu
e embora o saiba todo mundo
o mundo todo dissimula:
nenhum de nós lhe mandou flores:
já morreu e não chora ninguém.

Talvez entre o olvido e o apuro
pouco antes de ser enterrada
teremos a oportunidade
de nossa morte e nossa vida
para sair por rua e mais rua,
de mar em mar, de porto em porto,
de cordilheira em cordilheira,
e sobretudo, de homem em homem,
perguntando se a matamos
ou foram outros que a mataram,
se foram nossos inimigos
ou nosso amor cometeu o crime,
porque já morreu a verdade
e agora podemos ser justos.

Antes deveríamos lutar
com armas de obscuro calibre
e por ferir-nos esquecemos
o porquê de estarmos lutando.

Nunca se soube de quem era
o sangue que nos envolvia,
nós acusávamos sem parar,
sem parar fomos acusados,
eles sofreram, e sofremos,
e quando já ganharam eles
e também nós quando ganhamos
a verdade tinha morrido
de antiguidade ou violência.
Agora não há o que fazer:
todos perdemos a batalha.

É por isso que eu penso, talvez,
por fim pudéssemos ser justos
ou por fim pudéssemos ser:
temos este último minuto
e logo mil anos de glória
para não ser e pra não voltar.

Pablo Neruda, in Memorial de Isla Negra.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Manuel Bandeira





PENSÃO FAMILIAR


Jardim da pensãozinha burguesa.
Gatos espapaçados ao sol.
A tiririca sitia os canteiros chatos.
O sol acaba de crestar as boninas que murcharam.
Os girassóis
amarelo!
resistem.
E as dálias, rechonchudas, plebéias, dominicais.


Um gatinho faz pipi.
Com gestos de garçom de restaurant-Palace
Encobre cuidadosamente a mijadinha.
Sai vibrando com elegância a patinha direita:
— É a única criatura fina na pensãozinha burguesa.



Manuel Bandeira, in Estrela da Vida Inteira.

sábado, 28 de novembro de 2009

O exotisno da Natureza

Não parece um quadro surreal?






Esta árvore é de Socotra, no Yemen, "um pequeno arquipélogo formado por quatro ilhas no Oceano Índico, em frente à costa do Chifre da África, a 250 km ao Leste do Cabo Guardafui e a uns 350 km ao Sudeste da costa do Iémen.O grande isolamento geológico do arquipélago, juntamente com o intenso calor e a falta de água, tem dado origem a uma interessante flora endêmica que é muito vulnerável a mudanças."

Leia mais e veja as outras árvores exóticas de Socotra:http://aidobonsai.wordpress.com/tag/arvores-exoticas/

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

TEMPO


(Salvador Dali - A Persistência da Memória)


Por que será que todo ano acontece isso comigo? Eu vou vivendo normal, sem muita preocupação com o passar dos meses, mas um belo dia dou de cara com as lojas já vendendo enfeites pro Natal e levo um susto.
Mas isso tudo é tão relativo, o tempo afinal é uma invenção dos homens... ou da morte, como diz meu querido Quintana:

AH! OS RELÓGIOS

Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.

E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...

Mario Quintana - A Cor do Invisível

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Van Gogh e Mario Quintana



A Vinha Encarnada
Vincent van Gogh



INSCRIÇÃO PARA UMA LAREIRA

A vida é um incêndio: nela
dançamos, salamandras mágicas.
Que importa restarem cinzas
se a chama foi bela e alta?
Em meio aos toros que desabam,
cantemos a canção das chamas!

Cantemos a canção da vida,
na própria luz consumida...


OS POEMAS

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...



Mario Quintana, in Nariz de Vidro.



domingo, 23 de agosto de 2009

Nova Friburgo





Minhas flores

Só para esquentar o cinza do céu, umas fotos de flores.
Que frio que faz nesta serra!




sexta-feira, 22 de maio de 2009

Playing For Change II

Este também é lindo: "Don't Worry"



quinta-feira, 21 de maio de 2009

Song Around the World "Stand By Me"

Este vídeo é lindo, vi agora há pouco e fiquei maravilhada. Ele faz parte de um projeto, o Playing For Change, que é um movimento para conectar o planeta via música. Diversos artistas de rua gravaram takes mundo afora de algumas canções. O slogan é "A paz através da música."

o site da campanha: www.playingforchange.com