terça-feira, 24 de junho de 2008

INVERNO



Hoje não pára de cair uma chuva fininha e está um frio de lascar... brbrbr

Então lembrei desta poesia do Mario Quintana:



Que bom ficar assim, horas inteiras,
Fumando... e olhando as lentas espirais...
Enquanto, fora, cantam os beirais
A baladilha ingênua das goteiras.

E vai a névoa, a bruxa silenciosa,
Transformando a Cidade, mais e mais,
Nessa Londres longínqua, misteriosa
Das poéticas novelas policiais...

Que bom, depois, sair por essas ruas,
Onde os lampiões, com sua luz febrenta,
São sóis enfermos a fingir de luas...

Sair assim (tudo esquecer talvez!)
E ir andando, pela névoa lenta,
Com a displicência de um fantasma inglês...

(Mario Quintana - Nariz de Vidro. Ed. Moderna, 1984)
Se houvesse lampiões na rua, eu já estaria me sentindo naquela Porto Alegre do meu querido poeta, ou até na Londres imaginada por ele, de preferência com um inglês bem bonito... claro.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Gosto disso...


Sim, eu gosto de tricô. Aprendi um pouquinho quando era bem jovem, lá pelos doze ou treze anos, fazia coisas pequenas, como toucas ou sapatinhos de neném, até vendia para arrumar um dinheirinho, geralmente para comprar revistas. Depois cresci, fui trabalhar, casei, tive filhos, enfim, o tempo era pouco até para o essencial.

Há uns dois anos atrás, passando por uma loja de lãs, cedi a um impulso e comprei 2 novelos Uma freguesa me sugeriu fazer um cachecol, bem fácil, ideal para iniciantes. Daí voltei a tricotar, é bom para aliviar o estresse e é muito prazeroso.

Tudo seria perfeito se não fosse a minha alergia. Mas assim mesmo continuo tricotando, não tanto quanto gostaria.

Na internet descobri uns blogs e sites muito bons sobre tricô.

Estes aqui são alguns dos meus preferidos:




Estes são em inglês:

quinta-feira, 12 de junho de 2008

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Poesia Russa

MARINA TZVIETÁIEVA


Não roubarás minha cor
Vermelha, de rio que estua.
Sou recusa: és caçador.
Persegues: eu sou a fuga.

Não dou minha alma cativa!
Colhido em pleno disparo,
Curva o pescoço o cavalo
Árabe -
E abre a veia da vida.

1924


Abro as veias: irreprimível,
Irrecuperável, a vida vaza.
Ponham embaixo vasos e vasilhas!
Todas as vasilhas serão rasas,
Parcos os vasos.

Pelas bordas - à margem -
Para os veios negros da terra vazia,
Nutriz da vida, irrecuperável,
Irreprimível, vaza a poesia.

1934




VLADIMIR MAIAKÓVSKI


Algo em Ptersburgo

As calhas colhem lágrimas do teto,
no braço do rio riscam um grafito;
nos lábios bambos do céu inquieto
cravaram-se mamilos de granito.

O céu - agora calmo - ficou claro:
lá, onde prateia o prato do mar, o
úmido condutor, a passo lento, leva
o camelo de duas corcovas do rio Neva.

1913



VIELIMIR KHLÉBNIKOV


Uma vez mais, uma vez mais
Sou para você
Uma estrela.
Ai do marujo que tomar
O ângulo errado de marear
Por uma estrela:
Ele se despedaçará nas rochas,
Nos bancos sob o mar.
Ai de você, por tomar
O ângulo errado de amar
Comigo: você
Vai se despedaçãr nas rochas
E as rochas hão de rir
Por fim
Como você riu
De mim.

1919-1921

(Traduções de Haroldo de Campos - In Poesia Russa Moderna, Ed. Brasiliense, 1985)

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Entre o mar e a serra eu prefiro os dois


Janis explorando os telhados

MANOEL DE BARROS

Manoel de Barros escreve versos que causam estranhamento, sua poética é feita com as coisas simples, mas de uma forma original. Ele inventa palavras e dá novo uso a outras. Serão as águas do pantanal que o tornaram tão simples e ao mesmo tempo tão complexo?

CAMINHADA

Eu vinha aquela tarde pela terra
fria de sapos...
O azul das pedras tinha cauda e canto.
De um sarã espreitava meu rosto um passarinho.
Caracóis passeavam com róseos casacos ao sol.
As mãos cresciam crespas para a água da ilha.
Começaram de mim a abrir roseiras bravas.
Com as crinas a fugir rodavam cavalos
investindo os orvalhos ainda em carne.
De meu rosto se viam ribeiros..
Limpando da casa-do-vento os limos
no ar minha voz pisava...
(Manoel de Barros - Gramática Expositiva do Chão. Ed. Civilização Brasileira S.A., 1990)